A Salvação da Musa

......."Entoai, afinadíssima Musa, Hefesto e sua obra,
.......Que junto de Atena com olhar vívido ensinou ao ser humano
.......Tod'obra esplêndida na terra, embora outrora,
.......Os homens habitassem como feras brutas em covis de pedra dura."
..............Hino a Hefesto (A. B. COOK, 1914)


......."Ó, Senhora Musa, mãe nossa, lhe rogo,
.......Ao santo monte de Nemeia,
.......Vinde à hospitaleira Ilha doriana de Egina, pois que junto às águas do
.......Asopo jovens cavalheiros lhe aguardam, artífices de komoi
.......ansiando por tua voz. E diferentes logros anseiam por coisas diferentes,
.......porém a vitória atlética ama mais as canções..."
..............Píndaro, Nemeiana 3. 1-7 (komoi seriam celebrações melodiosas como o mel)


Tem coisas que não adianta falar; adianta fazer poesia. Ou, ao menos, tentar.

Se você acompanha meu blog mesmo que há pouco tempo, você sabe que eu postei as duas primeiras estrofes da poesia "A salvação da Musa" em uma postagem anterior. Falei de Minha participação no terceiro Sarau de poesia na Universidade Rural e que esta foi uma forma de resposta artística em relação ao momento político que passamos — momento em que os ânimos das pessoas foram a mil e muitas amizades se desfizeram. Como a tela do meu celular estava despedaçada, só consegui acessar a primeira parte da poesia (via uma conversa pelo WhatsApp enquanto ela nem ainda estava pronta) e fiquei de consertar a tela e postar o poema inteiro para vocês verem, no post seguinte. Mas pensei melhor e, como eu ia consertar a tela mesmo, achei que essa informação poderia ser útil para mais alguém e resolvi, ao invés de postar o poema, postar um tutorial de como consertar a tela de qualquer celular. Mil perdões.

Como eu tinha avisado que ia consertar o celular, sabia que vocês iriam sacar que o post após o do tutorial seria esse, com a poesia. Então, pra resumir, a seguir você vai encontrar:

• O poema "A salvação da Musa"
• Considerações sobre o mesmo
• Uma pequena reflexão política

A salvação da Musa

OHHH Musa! Como são patéticos os meus amigos!
Que pobreza intelectual! Como podem não ver o que eu vejo,
Não perceber o que está na cara!
Querer mudar o imutável mantra
social

Como podem? Seres desilumimados...
Conservapuppets...
Idiotacistas...?
Como vivem tão abaixo,
vida beirando o buraco,
estagnados no âmago
da evolução — afinal, pra que revolução
senão a que eu faço?
Porquanto não apresentam sua desistência, 
não há diálogo! 
Me faço resistente.

E repentinamente
um brilho no céu ao eu-lírico ofuscou
Emanando rutilação fulgurante e esplendor
Via-se beleza no verde-água de suas vestes e em cada cor
de sua prana celeste

Tamanho era o drama canceriano
ou mesmo espírito elevado, quiçá,
do militante que a musa veio nitescente
com ares de deusa, profetiza ou meme
carregando algo, talvez, por detrás de suas luminosas vestes

Não me dando tempo para tragar aquela aparição
Se pôs a falar.
Também, é óbvio: fui eu quem fiz sua invocação
em meu heroísmo.

"Ser da terra, sê saudado
por este ser iluminado
que ouviu seu ativismo
dos altos céus hoje hei descido
para fazer-te perceber da sabedoria os caminhos.
E demonstrar se há na sua atitude
Algum raciocínio: mínimo ou máximo".

Sua aura então calou-me,
neste seu ensejo
Quando por detrás de si sacou
um espelho emoldurado em vermelho.
O aspecto vítreo de
insondável oscilação rubi
lhe conferia horenda ostentação rubra;
Em sua moldur'avia'rabescos.

Nele eu vi em frente a mim
uma trave de marfim
Tão alva que com a luz eu a confundira
Com a qual eu estava prestes a colidir

Indignado e com o coração em sobressalto
Fiz a pergunta sobre aquilo que me deixara encafifado
— Ó Musa que em meus tempos
vãos
Agradastes-te em mo fazer visitação
Mostrando o revés que eu não via
Mas balia palavras que me não livrariam
de tal colisão;
Responda-me

Por que é que eu não vi esta trave?
Rogo, me desvele este impasse — faças jus à tu'aparição!

O olhar da musa permaneceu sereno,
como que velando ideias geniais.
E seu semblante, limpo — sabedoria
própria dos seres do Olimpo
para responder perguntas cruciais.

"Não enxergastes a trave
porque é essencial e o essencial
é invisível aos olhos"

Considerações sobre o poema

Bem, brevemente falando, o poema faz alusão ao gênero chamado "épico", originado na Grécia antiga. As epopeias foram um gênero heroico de poesia, cantos inspirados pelas Musas; ao início do poema, o poeta fazia uma apelo às Musas para que delas recebessem divinal inspiração. É o caso das poesias homéricas. A seguir um trecho do livro "Literatura nos mundos grego e romano" (2000) sobre a poesia de Homero: "Há passagens em que grupos, talvez até corais, são retratados como que em performance; contudo, interessantes como possam ser, são marginais ao primeiro achado, que é sobre performáticos-solo contando estórias heroicas. O que fica claro, no entanto, é que a poesia e a música são idealizadas como parte do bem-viver, especialmente do se banquetear e festividades" (p. 33). Se são parte do bem-viver, não poderiam ficar de fora do site, não é mesmo?

O poema então é uma sátira a quem pensa que está fazendo heroísmo mas, na verdade, está fazendo "manha"; daí a ideia imagética do meme, lançada no poema, em que um ser angelical desce com uma mensagem que deveria ser importante, mas que acaba por estar dando uma lição de moral ou fazendo uma piada. Independente de orientação política ou ideológica, pessoas arrogantes e metidas sempre incorrerão na temática do poema e serão alvo de nossa crítica e troça. Sempre incorrerão em não enxergar a trave diante dos olhos mas querer tirar cisco do olho dos outros, como diria o mestre Jesus. Uma coisa é certa: nunca podemos perder o 'espelho' de vista.

Considerações sobre política

Independentemente de sua orientação política ou, ainda, se você não tem opinião formada ou mesmo não gosta de política — você é muito bem-vindo aqui no site. Como o foco do mesmo não é política, fique tranquilo que não é sempre que vou tocar nesse assunto que, hoje em dia, se mostra tão delicado. Mas algo me preocupa, nesses dias; ou melhor, mais de uma coisa. Uma delas é a falta de diálogo. Parece que as pessoas sempre acham estar certas sobre tudo que estudaram ou sobre tudo que acham.

Outra coisa que me preocupa (eu sendo de direita, conservador) é o domínio ideológico de esquerda na mídia televisiva e na mídia jornalística; pois está havendo muito juízo de valor e ódio seletivo, isso sem contar mentiras à todo tempo sendo ditas, de maneira que, se uma pessoa for de esquerda, deveria tomar cuidado redobrado com aquilo que ouve e com aquilo que vê; a tendência é te fazer odiar e manipularem seu comportamento. Hoje em dia todos os assassinos sicários ("pau mandados") são considerados "depressivos", nunca têm a bendita da premeditação. Dificilmente conseguem extrair quem foi o/a mandante. Mas se o crime for contra pessoas de esquerda, parece que há redobrado cuidado na investigação, pelo menos. Se a pessoa estuprada for de direita, vira até piada. P-I-A-D-A. E isso é muito sério.

Se você leu até aqui, parabéns. Mas não acabou. Só mais um exemplo da seletividade da "antiga" grande mídia: pegaram uma das filhas do filósofo Olavo de Carvalho (intelectual contemporâneo), que testemunha contra ele acusando-o de ameaçar os filhos com arma na mão, dentre outras coisas. Sendo que essa filha já foi desmentida por todos os outros sete filhos do mesmo — mas a mídia insiste em pegar a carta publicada pela filha rebelde e em ignorar os 7 restantes. Pior: ignorar argumentos contrários não é um comportamento só da mídia. A impressão que tenho é de que quando vou discutir esses assuntos com as pessoas de esquerda elas desconversam o debate logo no início, com algumas exceções.

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